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MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO
exercício de expressão com pouco ou nenhum compromisso no que diz respeito à lógica e à coerência.
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17.3.07
Pra quem se interessa pelo o que acontece no mundo e não fica ligado só ao próprio umbigo, vale a pena ler ess post do meu querido Vic.
Era uma entrevista com a Whoopi Goldberg, mas nem de longe uma entrevista normal. Parecia mais com uma inquirição, ou um daqueles interrogatórios duríssimos típicos de banca examinadora. O assunto era a guerra do Iraque. O apresentador do programa discutia com ela a retirada das tropas, alegando que seria um movimento extramente maléfico para os Estados Unidos. O entrevistador era um homem preparado, inteligente, claramente mais preparado e claramente reacionária. A pobre atriz mal conseguia articular uma resposta, talvez surpresa por ser questionada de forma tão bruta - e, aliás, grosseira, já que era interrompida várias vezes, de forma brusca e nada polida, e não raro com comentários condescendentes e arrogantes.A discussão girava em torno do seguinte: a Whoopi defendia uma retirada imediata, tal como havia sugerido em público; o "whasp" da Fox News alegava que se fosse levado a cabo, isso só prejudicaria os Estados Unidos. Ela contra-argumentou que a guerra foi iniciada pelas razões erradas, com alegações que mais tarde não se comprovariam (tal como as famigeradas armas de destruição em massa), e que tinha deixado as coisas mais instáveis do que estavam antes. Para minha ampla e absoluta surpresa o entrevistador concordou com tudo (digo surpresa porque os direitistas aqui do Brasil gostam de insistir que, na verdade, foram achadas sim armas de destruição em massa no Iraque) - e não apenas: afirmou que aí ela tinha um bom argumentou, e até tentou reformulá-lo de forma mais lógica e elegante (no que foi relativamente bem sucedido). Só adicionou: "apesar de concordar com tudo isso, não se pode compensar um erro com outro erro".A linha de pensamento é a seguinte: sim, nós fizemos uma merda, mas agora que já estamos atolados nela fazer outra não será de grande serventia.O interessante desse ponto de vista é que, embora cretino, ele está correto. O Estados Unidos têm muito a perder ficando no Iraque, porém têm mais ainda abandonando o lugar. Quem examinasse a questão apenas da perspectiva americana seria obrigado a concluir que o melhor mesmo é ficar lá e tentar dar um jeito na bagunça desgraçada que aprontaram.Geralmente que se opõe à guerra não está levando em conta apenas a postura americana - de fato, considera que a perspectiva mais importante é a daqueles que sofrem diretamente com a guerra: o povo ocupado.Mas mesmo por aí a questão não é tão simples. Acho difícil que a saída dos Estados Unidos resulte em outra coisa que uma sanguinária guerra civil fratricida. É uma pena, mas parece que o povo está mesmo habituado a responder as divergências políticas na ponta do fuzil; o que é até justo quando a "divergência política" é com o invasor, mas muito inadequado quando é com tradições diferentes da mesma religião.De todo modo, é uma pena. Espero, sinceramente, que o povo iraquiano consiga seguir em frente com democracia, deixando para atrás tanto a ingerência americana quanto o fanatismo religioso, que são, de fato, cada um à sua maneira, os dois vilões da história.Por último, reparei também que eles perguntaram à Jane Fonda se ela não estava cometendo o mesmo erro que na época guerra do Vietnã, quando a retirada das tropas americanas, alegou-se, resultou em 3 milhões de mortes. Gostaria de esclarecer que essa pergunta está enviesada de uma forma inacreditavelmente desonesta. A cifra de 3 milhões só é alcançável se lançarmos na conta dos vietnamitas o genocídio cambojano do Khmer Rouge - o que, cá entre nós, é uma baita injustiça. Na verdade, o Vietnã não só não pode ser culpado pelos crimes de Pol Pot como pode ser corretamente parabenizado por ter posto fim ao pesadelo. Foi o exércio vermelho vietnamita, e ninguém mais, que depôs a ditadura cambojana e barrou o terror totalitário desse regime.